sexta-feira, setembro 21, 2007

"É meu vizinho, dotô. Ele tá reformando o quarto e a obra tá desteiorando toda minha casa, me prejodicano muito."

A nova coqueluche dos contribuintes natalenses é telefonar para a SEMURB (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo), onde eu trabalho. Antigamente só recebíamos denúncias de obras grandes, relevantes, ou de invasões em áreas de proteção ambiental, coisa fina mesmo. Atualmente recebemos denúncias desde jumento morando em praça pública até vizinho que não varre a calçada. Isso quando não ligam pra dizer que fulano tá batendo na mulher ou que cicrano da rua "tá vendeno tóchico".

O cúmulo da ociosidade são as pessoas que ligam denunciando obras ainda nem iniciadas. É a denúncia prévia. Ontem mesmo verifiquei duas dessas. Em uma, sei-lá-quem achou que iam iniciar uma obra porque apareceu um qualquer limpando um terreno baldio. Na outra, tinha uma placa anunciando "em breve neste local" e um lote completamente desocupado. Sabe aquele barulhinho de grilo?

A solução para este problema seria abrir um concurso para precog. Tem uma salinha lá pra gente botar o tanque dos videntes. O concurso podia ser assim: abertas as inscrições, marcava-se o dia da avaliação; os candidatos, então, entregavam os gabaritos uma semana antes da aplicação das provas, e quem acertasse mais questões estava dentro.

Pensando bem, não ia funcionar, porque os melhores iam adivinhar que não existe plano de carreira e desistiam antes da inscrição. Além do mais, que merda de vida essa: passar o dia dentro daquela gosma, dormindo, acordando e gritando o tempo inteiro. Aliás, eu nunca entendi qual é a do tanque; não dava pra comprar uma cama pra cada e deixar um caderninho do lado? E já imaginou uma happy-hour com esses sujeitos depois do expediente? Tipo, você conta a piada e ninguém ri porque todo mundo já sabe o final?

É, precog não rola. Melhor mesmo para resolver o problema das denúncias prévias é criar o Auto de Infração Pré-Datado. A gente entrega autos com a data em branco para toda a população, e avisa que quando forem começar uma obra irregular é só assinar e comparecer à Secretaria. Ou então, quem sabe, é um sonho que eu tenho: e se as pessoas só denunciassem o que prejudica a cidade, ou fere a lei, e as outras legalizassem suas construções?

Outro paliativo que me veio agora à cabeça seria distribuir baralhos e dominós para os idosos da cidade, porque pelo menos metade das denúncias furadas vêm desta faixa etária. Os outros cinqüenta por cento se dividem em vizinhos ranzinzas, transeuntes que tropeçam na calçada e donas-de-casa desesperadas. Ou, pior, as três coisas juntas.

Exposto o problema, estou aberto a sugestões. As melhores concorrem a um Auto de Infração no valor de três mil reais.

E você? Já foi denunciado hoje?

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