Este final de semana estava lendo umas matérias antigas sobre o filme do Homem-de-Ferro e comecei a refletir sobre como as adaptações de quadrinhos evoluíram nos últimos anos, não apenas no caráter de produção (= dinheiro) quanto também na maturidade com que a coisa vêm sendo encarada. Daí para fazer uma lista superficial e desencalhar este blog mais superficial ainda foi um pulo.
Percebe-se que de alguns anos para cá as adaptações de quadrinhos ganharam um espaço especial na indústria do cinema, merecendo inclusive o respeito de vários profissionais conceituados. Na minha opinião isso se deve a uma série de eventos (e por "eventos" entenda-se cenas, atores e até mesmo filmes inteiros) que levaram a coisa toda a um patamar mais elevado, e são esses eventos que eu resolvi enumerar aqui. Lembrando que, como eu disse, essa é A MINHA OPINIÃO.
Número 10: A realização de Superman, O Filme (Superman/1978)
O primeiro filme de super-herói realmente bom, com um roteiro que embora não seja totalmente fiel aos quadrinhos (nem às leis da física), resguarda a essência do personagem. Um bom argumento que segura o espectador até o final e o faz se identificar com o protagonista, além de efeitos especiais excelentes para a época, fizeram de "Superman, O Filme" (eu adoro acrescentar esse "O Filme") um sucesso comercial; mesmo sendo lançado para o público infanto-juvenil, trazia consigo algumas estratégias para conquistar também os adultos, principalmente a seleção de atores como Marlon Brando, Gene Hackman e o próprio Christopher Reeve, que deixavam mais interessantes as piadas simples do texto.
Número 9: Os vilões de Superman II - A Aventura Continua (Superman II/1980)
Assim que você se recuperar deste subtítulo idiota do nome em português, lembre-se do impacto que este filme causou quando o assistiu ainda criança (supondo que meus leitores tenham pelo menos uns 25 anos). A idéia de usar vilões com os mesmos poderes e em maior número era a única maneira de proporcionar um perigo real para o herói, e para o público a quem se destinava era uma verdadeira obra-prima. Esse filme mostrou que era possível executar uma batalha envolvendo vários personagens poderosos. Não posso deixar de comentar o epílogo da história, quando o ainda politicamente incorreto Clark resolve se vingar do valentão no bar.
Número 8: A escolha de Tim Burton para dirigir Batman (Batman/1989) Muito tempo se passou sem que houvesse um novo bom filme de herói. A Marvel tentou com algumas pérolas, que não me cabe citar, mas não alcançou um décimo do êxito de Supeman. Então a Warner/DC, depois de deixar o Homem de Aço destruir a reputação dele com os terceiro e quarto filmes, resolveu apostar no defensor de Gotham, personagem com admiradores tão fanáticos quanto exigentes. Para a época, posso dizer que agradou, apesar do Michael Keaton. A escolha de Tim Burton deu uma caracterização toda especial à cidade e ao personagem e mostrou que podia haver inovação nos filmes de quadrinhos. Infelizmente, presenciamos outra vez a a maldição dos terceiro e quarto filmes.
Número 7: A aparição de Wolverine, em X-Men (X-Men/2000)
Não é preciso dizer mais nada. Confesso que quando soube do filme dos X-Men, pensei: "Vai dar merda. Isso era para ter sido feito no final dos anos 70, com o Jack Nicholson como Wolverine e o Jon Voight como Dentes-de-Sabre". Desconfiado, fui ao cinema sem expectativa nenhuma, inclusive assisti sem querer (uma amiga minha ia comprar os ingressos para "60 Segundos" e se enganou). Mas nos primeiros minutos de filme... taqueopariu. Hugh Jackman É o Wolverine. Mesmo sendo jovem, mesmo sendo alto, foda-se! Eu estou vendo o WOLVERINE no cinema! E com todos os maneirismos, a expressão corporal e as atitudes wolverinescas. Isso é a verdadeira magia do cinema, ver nossos ídolos em carne e osso. "O Ciclope é um babaca", "a Tempestade não tem atitude", foda-se de novo! Quem gosta do Ciclope? Eles acertaram no Wolverine, que é o único X-Men com "espírito". É o marco inaugural da segunda fase das adaptações de quadrinhos.
Número 6: As acrobacias do Homem-Aranha (Spider-Man/2002)
Já no embalo de X-Men, eu só tinha uma dúvida com relação ao Homem-Aranha: como tornar verossímeis aqueles saltos e peripécias que fazem a alma do amigo da vizinhança? Com computação gráfica, meu filho! Se em X-Men ela foi usada pouco devidos à restrições orçamentárias impostas pela Fox (que não acreditava no projeto), em Homem-Aranha a Columbia não poupou grana e a equipe manteve os efeitos visuais no balanço correto, sem faltar nem sobrar.
Número 5: A estética de Sin City (Sin City/2005)
Sin City merece ser lembrado por duas coisas: a primeira é por mostrar ao grande público que existem quadrinhos adultos e sem super-heróis, e a segunda, mais importante, é que cinema é imagem. Robert Rodriguez e seu piolho Frank Miller utilizam com destreza uma fotografia preto-e-branco de alto contraste, com algumas inserções de cores, e reflete da forma fiel o clima noir moderno criado pelo autor nas graphic novels. A história é ótima, mas a película faz a diferença por causa do visual.
Número 4: A cena pós-créditos em Homem de Ferro (Iron Man/2008)
Esse para mim é o quarto momento mais importante desta lista. Se você não assistiu o filme, cai fora porque é spoiler. Na cena final, quando Samuel L. Jackson aparece como Nick Fury (só isso já é fantástico), ele trava diálogo com um desconfiado Tony Stark e, com sua frase final, encerra a segunda fase da nossa lista: "Estou aqui para lhe falar sobre o projeto Vingadores." Taqueopariu. Se concretizada, essa idéia pressupõe a transposição de todo um universo para o cinema, já que nunca antes houve interação entre as diversas adaptações (o filme da Elektra não conta, até porque não tem nada a ver com o do Demolidor). A conexão entre vários personagens abre um vasto campo para roteiristas e diretores explorarem (e eventualmente cagarem) toda uma realidade que até hoje só foi explorada (e freqüentemente cagada) nas revistas.
Número 3: O primeiro trailer de Watchmen (Watchmen/2009)
Assisti este trailer descompromissadamente em um site e a única coisa que me veio à cabeça quando terminou foi um "puta merda". Foi possivelmente o melhor que eu já vi na vida. A iluminação, a música, as cenas selecionadas, tudo muito bem encaixado e juro que quando percebi que aquelas peças voando eram a montagem da Fortaleza de Marte quase chorei. Quem leu a história e aguardou com ansiedade a versão cinematográfica deve ter sentido a mesma coisa. Ao todo, já vi umas trinta vezes. E, quando vi a primeira vez, ainda teve o mérito de me preparar para o próximo item da lista, que eu iria ver naquele mesmo dia.
Número 2: O conceito por trás de O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight/2008)
Christopher Nolan já tinha dado a dica em Batman Begins, mas somente em O Cavaleiro das Trevas foi possível tornar tão real uma história envolvendo um chamado "super-herói". A história é toda fundamentada na nossa realidade, com cidades de verdade e justificativas plausíveis para as ações dos personagens. Isso não é possível em um personagem com superpoderes, mas para o Batman é perfeito. Claro que um cara usando fantasia de morcego é ridículo, e por isso Batman Begins não está na lista, mas n'O Cavaleiro das Trevas isso é desprezível. A realização foi tão boa e o roteiro tão enxuto e bem amarrado que não é difícil de acreditar na existência de um milionário maluco do caralho. Aqui tem início a terceira fase da lista: onde acaba o filme de quadrinhos e começa o cinema.
Número 1: O Coringa de Heath Ledger
Alguém deve estar se perguntando porque não incluí isso no item anterior, mas não dava. O Coringa deste filme é um evento por si só. Nunca ninguém emprestou tanta credibilidade a um personagem de quadrinhos, e olhe que já tivemos Robert Downey Jr. como Tony Stark. Heath Ledger emocionou qualquer um que já leu uma história do Batman, não porque incorporou o personagem, mas sim porque o transcendeu. Ninguém, em mídia alguma, captou tão bem o conceito que permeia o Coringa - nem Frank Miller. Ele é uma entidade, não é uma pessoa. É o rosto do caos, sem passado, sem background, completamente injustificável, porque contar sua origem é matar a imprevisibilidade. Eu sei que os roteiristas do filme têm muito crédito na concepção do personagem, mas o fato é que se ele não fosse convertido em realidade, se o espectador não visse o filme e pensasse que aquele psicopata podia perfeitamente estar no Jornal Nacional e não no cinema, sem isso tudo seria em vão. Eu só não temo a ação desta interpretação sobre as mentes mais influenciáveis porque até elas sabem que ser Coringa não é para os fracos.
P.S.: No final das contas a lista, que era para ser somente em ordem cronológica, acabou ficando em ordem de importância também. Acho que é porque cresci assistindo a esses filmes e a cada momento citado vivi na pele a sensação de ficar mais exigente. Esse bost foi meio piegas, mas acreditem, os quadrinhos realmente tiveram papel fundamental na minha formação e por isso dou tanto valor a eles.
Atualização: Editei este post só para acrescentar que o filme do Watchmen se revelou uma merda foda. Grato, sem mais para o momento.
Percebe-se que de alguns anos para cá as adaptações de quadrinhos ganharam um espaço especial na indústria do cinema, merecendo inclusive o respeito de vários profissionais conceituados. Na minha opinião isso se deve a uma série de eventos (e por "eventos" entenda-se cenas, atores e até mesmo filmes inteiros) que levaram a coisa toda a um patamar mais elevado, e são esses eventos que eu resolvi enumerar aqui. Lembrando que, como eu disse, essa é A MINHA OPINIÃO.
Número 10: A realização de Superman, O Filme (Superman/1978)
O primeiro filme de super-herói realmente bom, com um roteiro que embora não seja totalmente fiel aos quadrinhos (nem às leis da física), resguarda a essência do personagem. Um bom argumento que segura o espectador até o final e o faz se identificar com o protagonista, além de efeitos especiais excelentes para a época, fizeram de "Superman, O Filme" (eu adoro acrescentar esse "O Filme") um sucesso comercial; mesmo sendo lançado para o público infanto-juvenil, trazia consigo algumas estratégias para conquistar também os adultos, principalmente a seleção de atores como Marlon Brando, Gene Hackman e o próprio Christopher Reeve, que deixavam mais interessantes as piadas simples do texto.
Número 9: Os vilões de Superman II - A Aventura Continua (Superman II/1980)
Assim que você se recuperar deste subtítulo idiota do nome em português, lembre-se do impacto que este filme causou quando o assistiu ainda criança (supondo que meus leitores tenham pelo menos uns 25 anos). A idéia de usar vilões com os mesmos poderes e em maior número era a única maneira de proporcionar um perigo real para o herói, e para o público a quem se destinava era uma verdadeira obra-prima. Esse filme mostrou que era possível executar uma batalha envolvendo vários personagens poderosos. Não posso deixar de comentar o epílogo da história, quando o ainda politicamente incorreto Clark resolve se vingar do valentão no bar.
Número 8: A escolha de Tim Burton para dirigir Batman (Batman/1989) Muito tempo se passou sem que houvesse um novo bom filme de herói. A Marvel tentou com algumas pérolas, que não me cabe citar, mas não alcançou um décimo do êxito de Supeman. Então a Warner/DC, depois de deixar o Homem de Aço destruir a reputação dele com os terceiro e quarto filmes, resolveu apostar no defensor de Gotham, personagem com admiradores tão fanáticos quanto exigentes. Para a época, posso dizer que agradou, apesar do Michael Keaton. A escolha de Tim Burton deu uma caracterização toda especial à cidade e ao personagem e mostrou que podia haver inovação nos filmes de quadrinhos. Infelizmente, presenciamos outra vez a a maldição dos terceiro e quarto filmes.
Número 7: A aparição de Wolverine, em X-Men (X-Men/2000)
Não é preciso dizer mais nada. Confesso que quando soube do filme dos X-Men, pensei: "Vai dar merda. Isso era para ter sido feito no final dos anos 70, com o Jack Nicholson como Wolverine e o Jon Voight como Dentes-de-Sabre". Desconfiado, fui ao cinema sem expectativa nenhuma, inclusive assisti sem querer (uma amiga minha ia comprar os ingressos para "60 Segundos" e se enganou). Mas nos primeiros minutos de filme... taqueopariu. Hugh Jackman É o Wolverine. Mesmo sendo jovem, mesmo sendo alto, foda-se! Eu estou vendo o WOLVERINE no cinema! E com todos os maneirismos, a expressão corporal e as atitudes wolverinescas. Isso é a verdadeira magia do cinema, ver nossos ídolos em carne e osso. "O Ciclope é um babaca", "a Tempestade não tem atitude", foda-se de novo! Quem gosta do Ciclope? Eles acertaram no Wolverine, que é o único X-Men com "espírito". É o marco inaugural da segunda fase das adaptações de quadrinhos.
Número 6: As acrobacias do Homem-Aranha (Spider-Man/2002)
Já no embalo de X-Men, eu só tinha uma dúvida com relação ao Homem-Aranha: como tornar verossímeis aqueles saltos e peripécias que fazem a alma do amigo da vizinhança? Com computação gráfica, meu filho! Se em X-Men ela foi usada pouco devidos à restrições orçamentárias impostas pela Fox (que não acreditava no projeto), em Homem-Aranha a Columbia não poupou grana e a equipe manteve os efeitos visuais no balanço correto, sem faltar nem sobrar.
Número 5: A estética de Sin City (Sin City/2005)
Sin City merece ser lembrado por duas coisas: a primeira é por mostrar ao grande público que existem quadrinhos adultos e sem super-heróis, e a segunda, mais importante, é que cinema é imagem. Robert Rodriguez e seu piolho Frank Miller utilizam com destreza uma fotografia preto-e-branco de alto contraste, com algumas inserções de cores, e reflete da forma fiel o clima noir moderno criado pelo autor nas graphic novels. A história é ótima, mas a película faz a diferença por causa do visual.
Número 4: A cena pós-créditos em Homem de Ferro (Iron Man/2008)
Esse para mim é o quarto momento mais importante desta lista. Se você não assistiu o filme, cai fora porque é spoiler. Na cena final, quando Samuel L. Jackson aparece como Nick Fury (só isso já é fantástico), ele trava diálogo com um desconfiado Tony Stark e, com sua frase final, encerra a segunda fase da nossa lista: "Estou aqui para lhe falar sobre o projeto Vingadores." Taqueopariu. Se concretizada, essa idéia pressupõe a transposição de todo um universo para o cinema, já que nunca antes houve interação entre as diversas adaptações (o filme da Elektra não conta, até porque não tem nada a ver com o do Demolidor). A conexão entre vários personagens abre um vasto campo para roteiristas e diretores explorarem (e eventualmente cagarem) toda uma realidade que até hoje só foi explorada (e freqüentemente cagada) nas revistas.
Número 3: O primeiro trailer de Watchmen (Watchmen/2009)
Assisti este trailer descompromissadamente em um site e a única coisa que me veio à cabeça quando terminou foi um "puta merda". Foi possivelmente o melhor que eu já vi na vida. A iluminação, a música, as cenas selecionadas, tudo muito bem encaixado e juro que quando percebi que aquelas peças voando eram a montagem da Fortaleza de Marte quase chorei. Quem leu a história e aguardou com ansiedade a versão cinematográfica deve ter sentido a mesma coisa. Ao todo, já vi umas trinta vezes. E, quando vi a primeira vez, ainda teve o mérito de me preparar para o próximo item da lista, que eu iria ver naquele mesmo dia.
Número 2: O conceito por trás de O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight/2008)
Christopher Nolan já tinha dado a dica em Batman Begins, mas somente em O Cavaleiro das Trevas foi possível tornar tão real uma história envolvendo um chamado "super-herói". A história é toda fundamentada na nossa realidade, com cidades de verdade e justificativas plausíveis para as ações dos personagens. Isso não é possível em um personagem com superpoderes, mas para o Batman é perfeito. Claro que um cara usando fantasia de morcego é ridículo, e por isso Batman Begins não está na lista, mas n'O Cavaleiro das Trevas isso é desprezível. A realização foi tão boa e o roteiro tão enxuto e bem amarrado que não é difícil de acreditar na existência de um milionário maluco do caralho. Aqui tem início a terceira fase da lista: onde acaba o filme de quadrinhos e começa o cinema.
Número 1: O Coringa de Heath Ledger
Alguém deve estar se perguntando porque não incluí isso no item anterior, mas não dava. O Coringa deste filme é um evento por si só. Nunca ninguém emprestou tanta credibilidade a um personagem de quadrinhos, e olhe que já tivemos Robert Downey Jr. como Tony Stark. Heath Ledger emocionou qualquer um que já leu uma história do Batman, não porque incorporou o personagem, mas sim porque o transcendeu. Ninguém, em mídia alguma, captou tão bem o conceito que permeia o Coringa - nem Frank Miller. Ele é uma entidade, não é uma pessoa. É o rosto do caos, sem passado, sem background, completamente injustificável, porque contar sua origem é matar a imprevisibilidade. Eu sei que os roteiristas do filme têm muito crédito na concepção do personagem, mas o fato é que se ele não fosse convertido em realidade, se o espectador não visse o filme e pensasse que aquele psicopata podia perfeitamente estar no Jornal Nacional e não no cinema, sem isso tudo seria em vão. Eu só não temo a ação desta interpretação sobre as mentes mais influenciáveis porque até elas sabem que ser Coringa não é para os fracos.
P.S.: No final das contas a lista, que era para ser somente em ordem cronológica, acabou ficando em ordem de importância também. Acho que é porque cresci assistindo a esses filmes e a cada momento citado vivi na pele a sensação de ficar mais exigente. Esse bost foi meio piegas, mas acreditem, os quadrinhos realmente tiveram papel fundamental na minha formação e por isso dou tanto valor a eles.
Atualização: Editei este post só para acrescentar que o filme do Watchmen se revelou uma merda foda. Grato, sem mais para o momento.